Amor fatal...

• Angelical A preparação de tudo é o mais importante, o quarto na penumbra – mal iluminado pela fraca luz que vem da rua, a porta apenas encostada com a abertura certa, o lençol da cama limpo e macio de forma que possamos escorregar livremente nele, puro de cheiros. Os cheiros serão apenas os nossos que ficarão por horas inebriando nossos sonos. Hoje o quarto é verde, mas já foi amarelo, azul, vermelho, rosa, branco e arco-íris. O melhor sem dúvida foi o vermelho, nele, acredito que pela cor, a minha imaginação voou longe e o resultado disso foi o sexo quase selvagem, como se dois enormes búfalos, fedendo a suor e membros intumescidos, estivessem se confrontando em uma dança de vida e morte. A espera é importante também, faz parte do ritual, é preciso que eu feche os olhos e espere, mas não sei por que exatamente, hoje queria te ver chegar com meus olhos abertos, mas sei que se não fechá-los você não virá. Fecho-os e em segundos sinto suas mãos encostando de leve em meus pés, você escorregando por cima de meu corpo, sinto seu rosto apenas encostar-se a minhas coxas, meu sexo, barriga, peito e chega finalmente a encostar-se em meu rosto. Não há beijo, apenas o rosto encostado e isso já me é suficiente. Eu te entendo e sei que se eu tentasse algo novo e precipitado poderia perdê-lo para sempre, tenho medo disso. Aceito as regras. Nossa comunhão é total, não nos falamos, nem lembro mais quando dissemos a última palavra, não precisamos disso. Você me toca, no seu toque habitual e eu entendo, sei o que quer, me viro lentamente e me entrego a você. Sinto seu canhão tesado pronto a entrar em ação nessa nossa guerra particular, onde não existe inimigo, nem lado, nem bem e nem mal, só o prazer de cada um de nós. Chovia naquela noite de fins de março, apesar disso o calor fazia meu suor escorrer pelo meu corpo, meu rosto molhado, minha cueca suada, meus ombros rígidos de medo. Passei lentamente por aquela rua, vários rapazes se ofereciam, festival de carnes macias, sexos duros, roupas justas e peitos nus e lisos, não tinha coragem de parar meu carro, segui. De relance te vi, senti que me viu também, numa fração de segundos nossos olhares se cruzaram, segui. Medo de te perder, que você fosse embora, que outro macho - mais rápido do que eu - te colocasse no carro e te levasse. À volta no quarteirão que seria rápida me pareceu durar horas, anátema de tempo, maldito farol vermelho, maldita chuva, maldito transito infernal! Parei te vi ali belo, tua virilidade exposta dentro de uma calçada justa, tuas mãos cruzadas atrás das costas destacavam ainda mais tua masculinidade. Tua boca tomou aquele arremedo de sorriso mal expresso, demonstrando ali toda tua maldade, como um anjo vingador vindo do inferno, com suas asas negras, a espalhar a peste a quem se atrevesse a tocá-lo. Bastou apenas um leve sinal de minha mão, como um consentimento e estavas dentro do meu carro. Seguimos sem palavras, sem olhares, sem contato, sem perguntas e sem palavras. Senti naquele instante que estava perdido para sempre. Naquela noite você me fez seu para a eternidade. Não houve dor, grito, medo, tua posse foi total. Me penetraste como se meu cu fosse feito de gelatina, onde teu pau entrou sem resistência. Me cavalgaste por segundos, minutos, horas, perdi a noção do tempos! Gozaste com mil estrelas, como se teus jatos fossem compostos por toda via lácteo de milhares de sóis, bilhões de planetas e trilhões de Nuvens de Magalhães. Esperei que você despejasse até a sua última gota em minha bunda depositária, mas tua pica dura insistia em ficar dentro dela. Somente quando você a quis tirar é que eu resignado me levantei e fui até o banheiro. Meu pau estourava de inchado e somente ali sozinho, pude tocá-lo, pois seria quase um sacrilégio demonstrar que só seus desejos e gozos não me bastavam. Fui lentamente brincando com ele, tocando-o, depois como um animal enfurecido segurei-o como se segura algo que se quer quebrar e gozei em mil delicias possíveis entre o céu e a terra. Quando entrei no quarto você não estava mais, só restou a lembrança e teu cheiro de macho impregnado naquelas paredes do quarto agora cinza. Cinco longos anos de espera, noites após noites te aguardava como uma colegial aguarda sua noite de formatura, o grande baile. Algumas noites você vinha, noutros sentia apenas sua presença imaterial, como se um espírito invisível ficasse ali rondando minha cama, atormentando meu sono. Seu corpo e seu rosto não mudaram, você continuava com aquele rosto de indefinida idade. 18 ou 60? O que importava? Seu cabelo crespo que lhe caem nos olhos, como uma juba a rodear a cabeça. Seus olhos castanhos profundos de cigano. Seu nariz perfeito com duas narinas de touro selvagem. Sua boca como um corte em seu rosto com dois lábios finos. Seu peito castanho de mistura de raças - entre o árabe e o espanhol - liso, sempre suado, arfante. Suas axilas com seus milhares de pelos lisos, grudados de suor, cheiro forte de macho. Sua barriga funda, quando deitado, macia, com um umbigo profundo como uma caverna abissal. Seu pau enorme, grosso, teso – senhor de toda a sua maldade. Tuas bolas redondas, peludas, quentes. Tuas coxas fortes daquelas de corredores que se exercitam para ganharem um dia um troféu ao ultrapassarem a fita branca da sua vitória. Teus pés pequenos, limpos. Teus braços fortes como dos rapazes que trabalham no mercado e que os têm assim por descarregarem muitos caminhões. Tuas costas lisas, bem formadas, perfeitas. Tua bunda assombrosa e grande, sem pelos e dividida ao meio pelo rego profundo e impenetrável. Não lembro quando comecei a ler teus pensamentos e você os meu, mas foi horrível no começo, hoje não, já me acostumei. Toda tua maldade se transfigurou em minha frente como um filme, meus olhos crisparam, vi suas abomináveis vicissitudes: roubos, estupros, prisões, assassinatos. Senti-me mal, ânsia de vômito, senti teus braços me amparando e teu olhar de delinqüente bom, me dizendo calma. Todas as noites quando vinhas e, no meio da transa quando levavas as mãos ao meu pescoço, sentia que seria a derradeira, que ias apertá-lo, apertá-lo até que eu morresse ali com as pernas erguidas em volta da sua cintura e com teu pau enterrado em minha bunda, o único sentimento era de tristeza, não a tristeza de morrer, mas de não te sentir gozar sua enxurrada de porra dentro do meu cu. Mas felizmente ou infelizmente não sei, esse dia ainda não havia chegado. Teus olhos impetráveis para todos, me deixavam ver as suas maldades e seus crimes e foi assim que te vi quando chegou em frente daquela fábrica, no exato instante em que os funcionários saiam. Teus olhos ligeiros procuravam à vítima certa e, não foi muito difícil de identificá-la. Ele vinha, ainda com seu macacão sujo de graxa, entre muitos falava e ria com os demais. Você pára, se encosta a um poste e fica observando a passagem dele. Como se o tempo houvesse parado seus passos se tornaram lentos, como se estivesse observando tudo em câmera-lenta. Ele passou te olhou, e sentiu o calafrio de quem encontra a morte, transfigurada na forma de um belo rapaz, ali parado aguardando. Não sentiu medo, muito pelo contrario foi de encontro a ela. Seguiram um longo tempo lado-a-lado, sem palavras e sem olhares, pararam em frente a um bar, o mais sujo e horrível bar em toda face da terra, pediram uma pinga, tomaram de um trago, depositaram os copos no balcão, o trabalhador pagou. Vou dar nome aos meus dois personagens, pois quem não tem nome não existe. O anjo mal chamarei de Gabriel e o trabalhador de Ezequiel, dois anjos com suas diferenças. Voltaram a caminhar, só pararam na frente de uma escada onde se lia hotel. Subiram. Ezequiel como todas as demais vítimas era totalmente inexperiente, não é exatamente essa a palavra certa, pois na verdade ele nunca havia imaginado uma situação destas, mas enfim estava diante da morte e essa era sua missão. Sem que o outro anjo pedisse ficou completamente nu e se deitou. Gabriel ainda ficou ali parado observando se aquilo valeria a pena, por fim tirou sua roupa também, e se deitou ao lado do outro. Ficaram ali deitados se olhando, Ezequiel deitado de costas e Gabriel de bruços. O anjo mal esticou seu braço e sua mão fez um arremedo de carinho no peito do outro. Foi o suficiente, ambos se crisparam e se atacaram. Como dois bichos no cio fizeram um sexo totalmente animalesco. Ezequiel de quatro e Gabriel de joelhos currando o outro sem prendê-lo, sem envolvê-lo, apenas seu grosso e longo caralho encostava e entrava naquele cu martirizado. Depois de longas e demoradas estocadas, Gabriel sentiu que iria gozar, havia chegado o momento do prazer total, suas mãos lentamente foram subindo e se dirigindo ao pescoço do outro, segurou com força, mas não com força suficiente para matá-lo, apenas para prendê-lo. Quando sentiu que o primeiro jato se precipitava da cabeça de sua rola, com um movimento brusco, rápido e fatal, deslocou o pescoço do outro. Ezequiel morreu ali sem ter sentido na vida o prazer de experimentar as delicias da porra invadindo seu cu, com certeza foi para o céu, local reservado àqueles que não provaram e nem sentiram as delicias totais da carne. Gabriel continuou ali segurando o outro, agora com o pescoço mole como de um frango abatido, até que seu ultimo pingo fosse depositado no cálice sagrado. Depois se afastou do outro, ficou fitando demoradamente as imagens que passavam por aquela janela de um segundo andar. O que o trouxe a realidade foi um cachorro uivando nas proximidades, como se estivesse denunciando ao mundo o crime que havia sido cometido. Gabriel num ato de piedade virou o corpo de frente, ajeitou delicadamente a cabeça do cadáver no travesseiro, cobriu-o com o lençol, se vestiu e como se despedisse de sua própria viúva deu um leve beijo na boca do defunto, saiu na rua sem olhar para trás, sem sentir remorso e nem piedade dele próprio. Pelos teus olhos vi fleches do que seria tua infância. Teu rosto refletido no espelho de um quarto soturno, já com os cabelos crespos que te caiam as faces, uns oito anos de idade, já um anjo mais ainda um anjo sem asas. Uma sala cheia de gente, algumas tristes outras rindo, um caixão em cima de uma mesa, teus olhos fitando aquilo que parecia ser uma mistura de velório com um dia de Natal, alguém pronuncia um venha: se despedir de teu pai, teu pés ágeis te levam pra bem longe dali, dentro de um armário, em teu quarto. Ficas durante horas até que não ouves mais as vozes dos convidados na sala. Noite de chuva, levantas assustado, bates numa outra porta que não é a do teu quarto, uma mulher em roupas que te parecem andrajos, meio vestida meio nua, com um seio amostra abre a porta, descabelada pergunta: o que quer? Não responde ela te ameaça, por detraís dela, vez um homem nú sentado na beira da cama que ri e te mostra um caralho enorme, simulando uma punheta, ela ri também e bate a porta na tua cara dizendo: vá dormir e não me amole, vê se me dá sossego. Parado ali na porta ouve ainda ela comentar com o intruso: pra que ter filhos se nem trepar eu posso! Uma outra vez, vê a chegada de dois marinheiros, que entram bebem, comem e depois deixam tua mãe nua, ali mesmo na cozinha, depois os dois fodem com ela, um na bunda e outro na boceta, ela grita e uiva de prazer na tua frente. Uns dois anos depois, um colégio sombrio, divide um quarto, que mais parece uma cela, com outro garoto que me parece mais velho. Com ele aprende que teu pau te dá prazer, e mais mil outras coisas que irão moldar teu caráter funesto. Foge dali e passa a morar na rua, tuas noites tem a companhia de vários vagabundos, mendigos, ladrões, batedores de carteiras, assassinos, cafetões, falsários, prostitutas, travestís, pessoas emersas dos becos mais negros. A partir desse dia descobre pra que vieste a vida e onde é teu lugar. Uma outra vez no quarto vermelho, enquanto me dava prazer – com as pernas esticadas e apoiadas em teus ombros, vi o que pra mim foi teu crime mais bonito. Um fim de noite, quando as prostitutas se recolhiam e os cafetões conferiam as férias do dia, encostado a um poste – tua posição predileta – vê o que te pareceu uma miragem, um violoncelo caminhando na rua. Como um sonho impressionista aquele instrumento se desloca pela rua quase deserta. Num impulso passas a acompanhar aquela trajetória tomando cuidado, como se seguisse um fugitivo. De repente o violoncelo pára e se volta e vê que quem o carregava é um anão, o anão mais lindo da face da terra, perfeito, promocional e sedutor. Ele te vê e continua seguindo com o instrumento às costas. Abre a porta de um prédio e sobe os degraus, ele tem certeza que é seguido, mas seu olhar de anjo dá a impressão a ele que o levará aos céus. Entra junto com ele, num apartamento velho e desarrumado. Ajuda-o a se livrar daquele peso que trás as costas. Ele desajeitado te sorri como se fosse um convite, se despe e deitasse na cama a tua espera. Você sem pressa olha o corpo infantil e perfeito, faz um pequeno afago nos cabelos curtos do anão, tira a roupa e deitasse ao lado do infante, sente vontade de beijar e beija demoradamente aquele que será sua vítima mais sublime. Mete na bunda do anão que de quatro implorando por piedade, não tem dó, curra-o, usa toda sua violência, soca fundo e o segura com força, em sua cintura para que ele não fuja - como se isso fosse possível. Martiriza o coitado até que suas próprias forças começam lhe faltar, então resolve gozar. Quando sente a porra preste a sair, estica um dos braços e tira de dentro do bolso da calça, aos pés da cama, uma faca, golpeia-o inumeráveis vezes ao mesmo tempo em que o anão desfalece e teu pau esporra dentro dele. Não houve misericórdia, nem sente remorso ou pena, apenas a tristeza em ter que matar aquele belo anão. Como um último favor limpa cuidadosamente o corpo sanguinolento com um pano que achou jogado no banheiro e o deita no chão do quarto, ao lado da cama, agora vermelha – um defunto não deve ficar entre a sujeira. Hoje estou no quarto vermelho, você já veio e me proporcionou às delicias de sempre. Agora estou no banheiro me aliviando da tua e da minha porra. Vi em teus olhos que essa foi a nossa última noite, me olhaste de forma diferente como se dissesse um adeus. Sei que depois de uma gozada fantástica voltarei ao quarto, que será como sempre foi branco, me deitarei ao lado da minha mulher, a abraçarei e dormirei tranqüilo o resto da noite. Terei que procurar uma nova fantasia, talvez um outro rapaz jovem com quem me deitarei todas as noites. Preciso disso se não ficarei louco.